Um dos primeiros movimentos que os bebês executam logo ao nascer é sugar. Com o passar do tempo, o repertório aumenta e é aperfeiçoado com base no contato com o entorno, as pessoas e os objetos. Essa oportunidade é importante para garantir a sobrevivência dos pequenos e a comunicação deles com o ambiente antes da aquisição da linguagem oral. Por meio de gestos, eles exploram e conhecem o mundo em que vivem. Esse estágio foi descrito como sensório-motor (ou projetivo) pelo médico, psicólogo e filósofo francês Henri Wallon (1879-1962).
Na creche, trabalhar a temática do movimento requer planejamento. A ausência de berços, somada a atividades de dança que envolvem gestos repetitivos e coreografados e os tradicionais circuitos que desafiam a turma a descer, subir, rolar, entrar e sair, é interessante. Mas é preciso garantir ainda mais, pensar em propostas que desafiem as crianças constantemente a ir e vir, a explorar ações que ainda desconheçam, a experimentar sensações e a conhecer o próprio corpo, possibilidades e limites. Para isso, organizar a sala com elementos pertinentes e espaços livres é essencial.
Atividade permanente: desafio corporal
A importância de rolar, pular e dançar
Não existe uma fórmula para criar um ambiente corporalmente desafiador. No entanto, bons exemplos podem ajudar, mostrando como o espaço deve ser organizado para favorecer a pesquisa de movimentos e a estimulação dos sentidos da criançada. A foto acima apresenta uma das salas da CEI Nossa Senhora das Graças. Observe que a diversidade é contemplada para além do tipo de objeto. A disposição e o tamanho de cada um são pensados pelos educadores.
Essa preocupação, de acordo com o livro Educação de Bebés em Infantários (Jacalyn Post e Mary Hohmann, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 380 págs., edição esgotada), é importante para incentivar diversas interações. Objetos grandes e pequenos, colocados no alto e mais próximos ao chão, permitem que os bebês investiguem meios de alcançar todos eles. Além disso, garantir que na sala existam peças grandes, como as de mobiliário, evita que eles vejam o adulto como um gigante.
Além de garantir um bom trabalho com movimento, essas intervenções rendem frutos para a construção e o desenvolvimento da autonomia e da identidade, outro eixo fundamental na Educação Infantil. Segundo Ana Lúcia Bresciane, psicóloga e formadora de professores, o desenvolvimento motor favorece as descobertas e a expressão de sensações e sentimentos, promovendo a comunicação segundo as marcas simbólicas, próprias da cultura infantil. Nara de Oliveira, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), completa: "Pensar de forma opositiva, corpo versus mente, só reforça estereótipos". Então, aproveite ao máximo as oportunidades de pôr a turma para se mexer.
Fonte: Revista Nova Escola