quarta-feira, 25 de julho de 2012

Movimento: por que ele é tão importante


 

Um dos primeiros movimentos que os bebês executam logo ao nascer é sugar. Com o passar do tempo, o repertório aumenta e é aperfeiçoado com base no contato com o entorno, as pessoas e os objetos. Essa oportunidade é importante para garantir a sobrevivência dos pequenos e a comunicação deles com o ambiente antes da aquisição da linguagem oral. Por meio de gestos, eles exploram e conhecem o mundo em que vivem. Esse estágio foi descrito como sensório-motor (ou projetivo) pelo médico, psicólogo e filósofo francês Henri Wallon (1879-1962).

Na creche, trabalhar a temática do movimento requer planejamento. A ausência de berços, somada a atividades de dança que envolvem gestos repetitivos e coreografados e os tradicionais circuitos que desafiam a turma a descer, subir, rolar, entrar e sair, é interessante. Mas é preciso garantir ainda mais, pensar em propostas que desafiem as crianças constantemente a ir e vir, a explorar ações que ainda desconheçam, a experimentar sensações e a conhecer o próprio corpo, possibilidades e limites. Para isso, organizar a sala com elementos pertinentes e espaços livres é essencial.

Atividade permanente: desafio corporal

A importância de rolar, pular e dançar


Não existe uma fórmula para criar um ambiente corporalmente desafiador. No entanto, bons exemplos podem ajudar, mostrando como o espaço deve ser organizado para favorecer a pesquisa de movimentos e a estimulação dos sentidos da criançada. A foto acima apresenta uma das salas da CEI Nossa Senhora das Graças. Observe que a diversidade é contemplada para além do tipo de objeto. A disposição e o tamanho de cada um são pensados pelos educadores.

Essa preocupação, de acordo com o livro Educação de Bebés em Infantários (Jacalyn Post e Mary Hohmann, Ed. Fundação Calouste Gulbenkian, 380 págs., edição esgotada), é importante para incentivar diversas interações. Objetos grandes e pequenos, colocados no alto e mais próximos ao chão, permitem que os bebês investiguem meios de alcançar todos eles. Além disso, garantir que na sala existam peças grandes, como as de mobiliário, evita que eles vejam o adulto como um gigante.

Além de garantir um bom trabalho com movimento, essas intervenções rendem frutos para a construção e o desenvolvimento da autonomia e da identidade, outro eixo fundamental na Educação Infantil. Segundo Ana Lúcia Bresciane, psicóloga e formadora de professores, o desenvolvimento motor favorece as descobertas e a expressão de sensações e sentimentos, promovendo a comunicação segundo as marcas simbólicas, próprias da cultura infantil. Nara de Oliveira, professora da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), completa: "Pensar de forma opositiva, corpo versus mente, só reforça estereótipos". Então, aproveite ao máximo as oportunidades de pôr a turma para se mexer.


Fonte: Revista Nova Escola

segunda-feira, 9 de julho de 2012

Meu filho precisa de fono?



Toda criança precisa ir ao fonoaudiólogo?
Não. A consulta deve ser marcada se o seu filho apresentar alguma alteração ou atraso na fala que não seja esperado para a faixa etária dele. E não existem dados nacionais, mas estima-se que 5% das crianças vão ter algum tipo de dificuldade. O alerta de que haja um problema, em geral, vem do pediatra ou da escola. “Mas sempre que os pais suspeitarem de alterações devem procurar orientação do médico que acompanha a criança. E, em todas as consultas, o progresso da linguagem é avaliado”, afirma Sylvio Renan Monteiro de Barros, pediatra clínico e membro da Sociedade Brasileira de Pediatria. Uma pesquisa norte-americana, feita com 88 crianças durante 20 anos, comparou esse processo de aquisição da linguagem a um passeio de montanha-russa: até chegar a fluência, elas vão adotando e abandonando padrões de fala, como trocar fonemas (o nome que se dá ao som das letras) e omitir sons. O que isso significa? Que seu filho pode apresentar alguns problemas enquanto está aprendendo a se comunicar, mas que a maioria vai desaparecer naturalmente até os 5 anos.

Quais são os problemas de fala mais comuns e quando aparecem? 
O primeiro que pode surgir é o atraso no início da fala, que é percebido quando a criança articula pouco ou quase nada aos 2 anos, idade em que deveria conseguir se comunicar com frases simples, como “me dá.” Se isso não acontece, é preciso marcar uma consulta com o fonoaudiólogo. Aos 3, acontecem as trocas de fonemas, mas isso não é necessariamente um problema. Vai depender da substituição que ele faz e da etapa em que isso acontece. Por exemplo, nessa idade é comum a criança “comer” o R (em vez de falar preto, dizer “peto”), e nem por isso é preciso procurar um especialista. De 2 a 4 anos, seu filho pode começar a repetir as palavras ou as sílabas, caso conhecido, na linguagem médica, de disfluência fisiológica. Diferentemente da gagueira (um distúrbio neurobiológico, que tem início por volta dos 5 anos e que exige tratamento especializado), essa disfluência dura cerca de seis a dez semanas e acontece porque os pensamentos da criança são mais rápidos do que a capacidade de falar, causando a repetição. E você pode ajudar. Ouça seu filho com calma e paciência, sem chamar a atenção para esse comportamento ou pedir para ele falar mais devagar – isso só vai fazê-lo se sentir inadequado. Lembre-se de que até os 5, a criança deve falar todos os sons corretamente – essa regra não vale para prematuros que, em geral, têm mais chances de sofrer atrasos no desenvolvimento. Se perceber algo diferente, procure um especialista.
 
Que outros fatores podem prejudicar o desenvolvimento da fala?
Problemas auditivos, neurológicos ou respiratórios, e até fatores ambientais, como falta de estímulo. Desses, os de audição são os mais comuns. “A criança que ouve pouco, balbucia pouco. Ou seja, vai ter dificuldade para aprender a falar”, diz Ignês Maia Ribeiro, diretora educacional do Instituto Brasileiro de Fluência (SP). Por isso é importante que o recém-nascido faça o teste de triagem auditiva (teste da orelhinha), gratuito e obrigatório desde 2010. Ele é realizado ainda na maternidade e avalia se o bebê tem alguma dificuldade para ouvir. Já as crianças com deficiência neurológica (inclusive as portadoras de síndromes, como a de Down) precisam de atenção especial: a maioria vai ter atraso no desenvolvimento da linguagem. Outro fator importante é a respiração. As que possuem problemas crônicos, como rinite alérgica, têm mais chances de apresentar alterações na fala pois respiram pela boca. “Isso afeta todo o processo de postura da língua e posicionamento dos dentes, o que colabora para as alterações aparecerem”, afirma Cássia Telles, fonoaudióloga do Hospital Pequeno Príncipe (PR). 

Uma vez que a dificuldade foi constatada, devo ir logo ao especialista? 
Sim. É importante que o fonoaudiólogo faça uma avaliação rapidamente. Mas diagnosticar o problema, em alguns casos, não significa que o tratamento vai ser iniciado naquele momento. “Quando a criança vai para a escola, é exposta ao ambiente social e percebe que sua fala está errada. Muitas vezes, essa é a hora mais adequada de interferir, pois ela fica consciente do problema e disposta a mudar o quanto antes”, diz Cássia. Ainda assim, vale dizer que somente um especialista saberá a hora certa de começar o tratamento. 

E o desempenho escolar, como fica?
A principal preocupação é com a escrita. Seu filho só vai aprender a escrever direito se conseguir discriminar os sons corretamente – se tem dificuldade de articular o R e o L, vai transferir isso para o papel, por exemplo. Uma fala com problemas também prejudica a comunicação com outras crianças e dificulta a interação social.
 
Falar errado pode ser uma maneira de chamar a atenção?
Sim. Isso pode ser reflexo de uma situação que a criança está com dificuldade para lidar, como a chegada de um irmão. Se o fonoaudiólogo identificar que a questão é comportamental, pode, por exemplo, dar orientações do que fazer no dia a dia, como não reforçar ou corrigir o erro. Ele também pode indicar uma consulta com um psicólogo.
Como é o tratamento para os problemas de fala?
Primeiro você vai precisar encontrar um fonoaudiólogo (e, pasme, existe um tipo de especialista para cada dificuldade da fala). A terapia, em geral, acontece duas vezes por semana. Nas primeiras sessões, os pais entram junto com a criança para ela ter mais segurança. De qualquer maneira, é importante a sua participação, porque os exercícios feitos com o especialista e as orientações devem ser repetidas em casa. Dependendo do caso, é possível que a criança só vá ao especialista para que ele acompanhe o progresso, e todo o restante do tratamento seja realizado com a sua ajuda.
Qual a melhor maneira de estimular meu filho?
Uma pesquisa da Universidade de Notre Dame (EUA) mostrou que, durante o primeiro ano de vida, os bebês já identificam padrões de sons nas palavras para começar a entender o significado delas. Isso significa que eles treinam a fala muito antes de balbuciar as primeiras sílabas. Por isso, converse sempre com o seu filho (nomeie as partes do corpo na hora do banho, por exemplo) e crie oportunidades para ele falar. Se a criança apontar para algo, diga o nome do objeto antes de atender ao pedido dela. Quando disser algo errado, responda com a maneira correta, sem corrigi-la para não gerar mais insegurança. E nada de falar em “nenenês”. O tatibitate pode atrasar o aprendizado.

E mais...
 
Chupeta e mamadeira podem interferir no desenvolvimento da fala?
Sim, principalmente se forem usadas depois dos 2 anos, quando os dentes de leite já apareceram. São eles que vão posicionar a língua de uma maneira adequada dentro da boca, e esses produtos alteram toda a estrutura dela. Além do risco de entortar os dentes, a chupeta e a mamadeira podem alterar as musculaturas da língua, dos lábios e das bochechas, que ficam flácidas, e o padrão respiratório, o que, consequentemente, atrapalha a fala. 

Freio de língua preso é caso de cirurgia?
Nem sempre. Um bom termômetro é a amamentação. Se o frênulo (ou seja, o freio) for curto demais e atrapalhar a sucção do leite, é provável que ele dificulte a elevação da língua e prejudique a articulação de alguns fonemas mais tarde. A cirurgia é simples e pode ser feita desde os primeiros meses de vida da criança. O médico faz uma incisão, com anestesia local. Bebês fazem o procedimento no próprio consultório do pediatra e, em alguns casos, nem precisam levar pontos. A recuperação é rápida. 

Fonte: Revista CRESCER

domingo, 3 de junho de 2012

Diversas maneiras de demonstrar que amar demais não faz mal


 

Amamos tanto os nossos filhos que dói. 
É difícil de descrever e, até nos tornarmos pais, de compreender a dimensão desse amor também...
Nós os cobrimos de beijos, apertos, carinhos. E antes mesmo que eles entendam o significado dessas palavras, declaramos “eu te amo” a toda hora, em qualquer lugar. Mas será o suficiente para a criança se sentir amada? “Se você disser isso para um adulto, sem demonstrar o sentimento com atitudes, não vai fazer sentido para ele. Que dirá a uma criança?”, diz a educadora Edileide Castro, autora de Afetividade e Limites (Ed. Wak). 
Com o passar dos anos, pode ser até que seu filho fique com vergonha dessa demonstração exagerada de afeto vez ou outra ou, simplesmente, se irrite – e vai limpar um beijo ou, pior ainda, vai pedir para descer do carro um quarteirão antes da escola. Mas até esse dia chegar, muitos beijos e abraços virão. Afinal, que você ama o seu filho, não há dúvidas. E existem diversas formas de fazer com que ele entenda isso. A seguir, nós mostramos algumas...
 
1. Diga não
Apesar de ter dito várias vezes, antes de se tornar mãe, que jamais um filho seu seria um menino mimado, quando chega a hora de impor limites... dá uma peninha, não? Ou, às vezes, culpa mesmo. 
A dona de casa Luciana Cerutti, mãe das gêmeas Gabriela e Beatriz, 2 anos, já sabe que educar, às vezes, é um dilema. “Minhas filhas entraram cedo na escola. Então, o pouco tempo que passo com elas não quero que seja de brigas e gritos”, explica. Mas entende que amar também significa dizer não. “Se for preciso, repito 50 vezes a mesma coisa.” A justificativa é simples. “Apesar da cara feia, os limites passam para a criança a sensação de que alguém se importa com elas”, afirma a educadora Edileide.
 
2. Demonstre carinho pelo próximo também
Que os nossos filhos aprendem pelo exemplo, já sabemos. Assim, tomamos o maior cuidado para respeitar os sinais de trânsito, comer de boca fechada e não falar palavrão na frente deles. 
Mas como ensinar o amor com exemplos no dia a dia? Beijar e abraçar as crianças, algo que fazemos quase que instintivamente, é a primeira coisa que vem à cabeça. Mostrar que existe carinho entre os pais e os outros adultos ao redor, desde que isso aconteça naturalmente, também é uma forma de fazer com que seu filho se sinta amado. “O relacionamento familiar é o primeiro modelo que a criança tem”, diz a psicóloga Isabel Gomes, professora titular do Instituto de Psicologia da USP.
 
3. Planeje algo especial para ele
OK, nem sempre temos tempo de cuidar de todos os detalhes de uma festa de aniversário, por exemplo. Comida, bebida, reservar o salão de festas, alugar mesas e cadeiras, escolher um tema... Contratar os serviços ou comprar tudo pronto (onde encontrar tempo para enrolar centenas de brigadeiros?) é, sem dúvida, a opção mais prática. Mas, ainda que você não tenha muitas habilidades culinárias ou artesanais, que tal pedir ajuda da criança para aprontar ao menos um item dessa lista interminável? Pode ser desenhar o convite, embrulhar a caixa para colocar os presentes ou até mesmo fazer a lembrancinha. 
Além de se sentir importante, ele nunca mais vai esquecer aquele clima gostoso dos dias que antecedem a comemoração. E o melhor: você mostrará o quanto gosta do seu filho.
 
4. Dê sentido às palavras
Qual foi a primeira frase que você disse ao seu filho? Na página da CRESCER no Facebook, 90% dos pais responderam “Eu te amo”. Você também responderia o mesmo, aposto. “Mas se não tomarmos cuidado, acabamos colocando o ‘eu te amo’ na prateleira do ‘boa noite’, ‘tchau’ e companhia”, bem lembrou a atriz Denise Fraga, recentemente, na coluna que ela escreve na CRESCER. 
Para a psicóloga Dina Azarak, autora de A Linguagem da Empatia – Métodos Simples e Eficazes para Lidar com o seu Filho (Summus Editorial), podemos – e devemos! – declarar o nosso amor pelos filhos de duas formas: explicitamente, como fala Denise, ou descritivamente. Assim, “o seu abraço é tão gostoso”, “fiz aquele bolo que você gosta” ou “seja bem-vindo, filho” (não por acaso, a segunda resposta mais citada pelos fãs) também passam o mesmo recado.
 
5. Deixe um bilhete surpresa
Na lancheira, na mala que ele vai levar para a escola, um recadinho de poucas palavras vai arrancar um sorriso lindo do seu filho. “Gestos assim fazem com que a criança entenda que os pais se lembram dela mesmo quando estão longe”, afirma a psicóloga Dina. 
Ela recomenda, ainda, que sejam esporádicos e personalizados. “É preciso conhecer bem os gostos do seu filho para não errar.” Se ele não sabe ler ainda, que tal um desenho? Pena que você não vai estar lá para tirar uma foto da cara dele quando vir sua mensagem! 

Texto retirado da Revista CRESCER.

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Conflitos conjugais: eles são prejudiciais para os filhos?

 
Você toma um cuidado enorme para nunca discutir com seu companheiro na frente do seu filho, certo? Talvez também se culpe toda vez que escapa uma pequena briga na presença da criança. Saiba que, ao contrário do que se pensa, um conflito pode não ser tão prejudicial assim para os pequenos.
Pesquisadores da Universidade de Rochester, nos Estados Unidos, avaliaram 235 famílias com crianças entre 5 e 7 anos durante três anos. Para o estudo, foi analisado o comportamento dos casais durante um conflito, e os cientistas classificaram os argumentos como destrutivo ou construtivo. O resultado da pesquisa sugere que é benéfico para a criança verem os pais resolverem os problemas construtivamente.

Mas existe mesmo algum benefício de as crianças verem os pais discutirem? Sim, desde que exista bom senso. Segundo Rita Calegari, psicóloga infantil do Hospital São Camilo (SP), há um senso comum de os pais nunca brigarem na frente dos filhos como forma de protegê-los, mas muitas vezes essa não é a melhor solução. “Se o clima entre o casal não está bom, as crianças vão perceber. Por mais que nada seja falado, elas sentem a distância um do outro, o silêncio, a mudança no clima da casa”, diz.

Quando os pais brigam, se a discussão for saudável, em que cada um expõe seu ponto de vista para chegar a um ponto em comum, sem agressões físicas ou ofensas dirigidas, ela pode agregar valores para a criança. Afinal, é no ambiente doméstico que ela aprende a se relacionar, a lidar com conflitos, frustrações e diferenças. “Os pais educam por meio do exemplo. Se a criança presencia uma discussão e depois vê os pais fazerem as pazes, se desculpando, ela entende que é normal ficar bravo e não concordar com outra pessoa, mas que é fundamental haver respeito”, afirma Rita.

Com isso, ela percebe que as relações humanas são permeadas por conflitos, mesmo entre pessoas que se amam. Isso elimina aquele estigma de que só briga quem se odeia.

Bom senso
 

A criança não precisa ficar assistindo às brigas dos pais como se estivesse numa sala de aula. É importante explicar para ela o que está acontecendo, e, principalmente, que ela não tem culpa alguma por aquela situação. “Os pais devem ser intérpretes para os filhos, mas nunca devem esconder”, diz Rita.

Além disso, não é tudo que deve ser falado na frente das crianças. Se esse tipo de conversa for inevitável, nunca peça para o seu filho sair da sala, por exemplo, para você e seu marido discutirem. São vocês que devem se retirar. “É importante dizer que os pais vão conversar, mas que ela pode entrar no quarto a hora que quiser”, afirma Rita.

É preciso maturidade. Discussão é diferente de uma guerra, que, se presenciada pela criança, pode gerar um sentimento de ansiedade e medo. Por isso, se perceber que o conflito chegou num nível em que você e seu marido perderam a capacidade de negociar, de entrar num acordo, é hora de ter um mediador entre vocês, seja um amigo, um parente ou um profissional.

Texto retirado da Revista CRESCER.