Quando você olha seu filho assistindo à televisão, fica totalmente
tranquilo ou com receio de que aquele hábito pode não ser tão bom para
ele? Segundo o professor Cláudio Márcio Magalhães, autor do livro
Os Programas Infantis da TV
(Editora Autêntica), as duas alternativas são válidas. “Como qualquer
outro instrumento tecnológico, a televisão pode ser boa e pode ser má.
Ela tem um grande potencial para facilitar a vida das pessoas, mas
precisa ser compreendida corretamente. É preciso saber todos seus
limites para usá-la de maneira eficiente”, diz.
Uma
pesquisa feita pela Universidade de Rochester, em Nova York, nos Estados
Unidos, mostrou que a TV tem influência no desenvolvimento intelectual
dos seres humanos. Para o bem e para o mal. Para chegar a essa
conclusão, os cientistas da instituição estudaram cérebros de 27
crianças (entre 4 e 11 anos) e 20 adultos enquanto eles assistiam ao
programa Vila Sésamo, tirando imagens dos caminhos percorridos pelos
neurônios de cada um deles com o passar das cenas.
Com
isso, eles perceberam que o cérebro responde àqueles estímulos vindos da
televisão, podendo se desenvolver, nesses momentos, em diferentes áreas
(o que varia conforme o assunto abordado no programa assistido). Essa
comprovação, de acordo com eles, pode levar a uma nova compreensão do
desenvolvimento do cérebro e até mesmo à criação de novas terapias para
dificuldades de aprendizagem.
Em seguida, os
pesquisadores realizaram ainda testes de QI voltados à matemática e à
linguagem em todos os participantes. Resultado: as crianças que
atingiram as maiores notas foram aquelas que tinham os mapeamentos
cerebrais mais parecidos com os dos adultos. Em outras palavras, é
possível afirmar que a estrutura neural do cérebro, como outras partes
do corpo, se desenvolve à medida que amadurecemos e oferecer estímulos
para esse desenvolvimento, assim como você conversa com seu bebê para
que ele fale, por exemplo, é fundamental.
“Embora o
estudo não tenha sido feito para defender a televisão, ele mostrou que
padrões neurais formados durante uma atividade cotidiana - no caso,
assistir à TV - estão relacionados, sim, com a maturidade intelectual”,
afirma, em nota, Jessica Cantlon, uma das autoras da pesquisa.
Benefícios
Quando
assiste a um programa televisivo, seja ele qual for, seu filho recebe
uma grande quantidade de informações que o faz ter contato, a cada
momento, com formatos, cores, movimentos, espaços e situações que até
então ele desconhecia. Para Cláudio, este é um dos principais pontos
positivos da TV.
Outro benefício é a complementação de
outras atividades, inclusive as escolares. “Vamos supor que, na escola,
uma criança acabou de aprender a noção de números. Quando ela ligar a
televisão e o personagem de um desenho disser que 2 mais 2 são 4, ela
juntará o que recebeu do mundo real ao que viu nesse mundo imaginário,
confirmando e reforçando essa informação”, diz o especialista.
Ainda
segundo ele, o mesmo princípio funciona para a vida familiar. Seu
filho, quando assiste a um programa que reflete valores como moral e
ética, se lembra dos ensinamentos que você costuma fazer em sua casa, o
que reforça também as ideias de certo e errado em sua cabeça.
Dicas e cuidados
Mesmo
sabendo que a televisão pode ser benéfica, você não pode deixar de
tomar uma série de cuidados em casa. Ligar o aparelho em qualquer canal e
deixar a criança por horas sozinha na frente dele pode prejudicá-la.
Veja abaixo algumas dicas:
- Sente-se ao lado de seu
filho para assistir televisão. Você vai notar que vai ser muito mais
gostoso tanto para ele quanto para você. E, dessa forma, você pode usar o
exemplo do programa mais tarde em alguma situação com seu filho.
-
Não o deixe ficar mais de duas horas em frente à TV. Essa é a
recomendação da Sociedade Brasileira de Pediatria para as telas, o que
inclui tablets, computadores, smartphones e videogames.
-
Selecione a programação e determine o que seu filho pode e o que não
pode assistir. Para isso, leve em conta o conteúdo do programa – que
deve ser voltado ao público infantil – e a faixa etária a que ele é
direcionado.
- Se ele reclamar dessa seleção, ensine que
classificações etárias devem ser seguidas por todos. Ele não pode
assistir a uma novela com cenas de violência, assim como você não pode
entrar em um brinquedo de um parquinho infantil, por exemplo. Sabendo
que as normas existem também para os adultos, ele terá mais facilidade
para respeitá-las.
- Aposte na variedade. Seu filho
provavelmente já tem seus programas de TV preferidos, mas tente fazer
com que ele procure sempre novas opções. Só não se esqueça que, além de
educativa, a prática de assistir televisão deve ser prazerosa, então não
tente forçá-lo a ver nada que ele não goste.
Desenhos educativos x comerciais
Uma
das dúvidas mais frequentes dos pais em relação à TV diz respeito à
presença de temas “politicamente incorretos” em grande parte dos
desenhos comerciais. Aqueles que mostram personagens tirando sarro e
pregando pegadinhas, (como Bob Esponja, Pica-Pau, e Tom e Jerry, por
exemplo) às vezes, são vistos com maus olhos pelos adultos, que temem
que seus filhos aprendam valores invertidos. E, por isso, muitos optam
pelos desenhos educativos. Mas qual é a diferença entre eles, afinal?
“Existem
os desenhos produzidos por uma equipe que quer apenas que o programa
seja aceito pelas crianças, que elas se divirtam. Para isso, usa muitas
referências infantis, explora o non-sense, utiliza gírias – tudo para
que aconteça uma identificação rápida. No educativo, a equipe também se
preocupa com o desenvolvimento biológico, educacional e cultural da
criança que é seu público-alvo. Tudo é pensado para aprimorar o processo
educacional dela”, diferencia Cláudio. Independentemente de qual tipo
for, um bom desenho é aquele que segue um bom roteiro, tem cenas e
frases que não julgam a criança como “bobinha”, e apostam na qualidade
estética e tem a criatividade como foco principal.
O
ideal, segundo Cláudio, não é excluir, mas sim mesclar a programação.
Para saber se você deve ou não permitir que seu filho assista a
determinado desenho, faça uma auto-avaliação. Lembre-se do que você
gostava de assistir quando era criança e pense se aquilo fez com que
você se tornasse menos tolerante ou mais violento. Se a resposta for
não, vá em frente e deixe seu filho se divertir. Se for ao seu lado,
melhor ainda!
* Texto retirado da Revista: CRESCER - Janeiro / 2013